quarta-feira, 13 de maio de 2015

Colonização da infância...

O Streptococcus agalactiae é um Coco Gram-positivo (0.6 a 1,2 µm), disposto aos pares ou em pequenas cadeias, que foi isolado pela primeira vez por Nocard em 1887, e durante décadas foi reconhecido como agente etiológico da mastite bovina, porém, não como causador de infecções em humanos (SILVEIRA, 2006).   
    


Possui nove tipos sorológicos (Ia, Ia/c, Ib/c, II, IIc, III, IV, V, VIII) porém, o tipo III é o mais frequente e isolado nas mulheres.

Fatores de virulência:
·        Polissacarídeo capsular
·        β-Hemolisina: Citotóxica para células (epiteliais e endoteliais inclusive dos pulmões).
·        C5a peptidase: Inativa o C5a (quimiotático* para neutrófilos e fagócitos)
*Quimiotaxia: Locomoção orientada das células em direção a um gradiente de concentração de uma molécula quimiotática, ou no caso, em direção ao local de inflamação da resposta imune.
·        Neuraminidase, Hialuronidase, Protease, DNAase

Streptococcus agalactiae pode colonizar o trato vaginal, urinário e gastrointestinal sem causar sintomas. Sua maior relevância médica está principalmente, em casos de gestantes colonizadas, que podem vir a contaminar seus filhos no momento do parto e provocar quadros graves de meningite, pneumonia e sepse neonatal.

A infecção neonatal apresenta-se sob duas formas: precoce e tardia. A forma precoce é mais frequente (80%) e ocorre nos primeiros sete dias de vida, sendo a transmissão por via ascendente antes do parto ou durante a passagem pelo canal de parto. Esta forma evolui como bacteremia, sepse, pneumonia e meningite. Os sintomas surgem na maioria das vezes logo após o nascimento, causando um desconforto respiratório de 35% a 55% dos pacientes. A sepse está presente em torno de 25% a 40% dos casos em evolução para choque séptico em torno de 24 horas de vida. A meningite pode ocorrer de 5% a 15% dos recém-nascidos e a evolução para óbito ocorre geralmente no segundo dia de vida. A forma tardia afeta recém-nascidos de sete dias até doze semanas de idade, sendo que a sua transmissão pode ser vertical, horizontal ou nosocomial. A manifestação clínica mais comum é a meningite (30% a 40%), a bacteremia (40%), a artrite séptica (5% a 10%) e raramente a onfalite e osteomielite (COSTA, 2009).

O diagnóstico é importante principalmente em gestantes de alto risco e pode ser feito de várias formas:
·        Bacterioscopia: Gram Positivo, disposto em pares ou cadeias
·        Ação do fator CAMP (formação de uma área de maior intensidade de β-Hemólise no local das amostras).
·        Antibiograma com identificação de resistência a Bacitracina.

O tratamento é feito com uso de antibióticos (Penicilina, cefalosporinas, eritromicina) e no caso de gestantes de alto risco (Rastreamento da colonização em mulheres entre a 35ª e 37ª semana gestacional) é administrado cerca de 4 horas antes do parto, doses de PenicilinaG ou cefazolina.

Em 2007 começaram a realizar esse diagnóstico de forma mais ampla, segundo nota no jornal O Estado de São Paulo:
O Hospital e Maternidade Estadual Interlagos é a primeira maternidade pública a realizar exame para diagnóstico da bactéria Streptococcus agalactiae em todas as pacientes que fazem o pré-natal na unidade. O microorganismo pode causar infecção generalizada e meningite no bebê. A medida previne a mortalidade infantil. Cerca de 20% das gestantes apresentam a bactéria que, se não for tratada, pode passar da mãe para o filho no momento do parto. Por mês, a unidade realiza cerca de 800 consultas de pré-natal e 450 partos


Referências:

COSTA, H. P. F.; BRITO, A. S. Prevenção da Doença Perinatal pelo Estreptococo do Grupo B. Educação Médica Continuada, Sociedade de Pediatria, 2009.

SILVEIRA, J. L. S. Prevalência do Streptococcus agalactiae em gestantes detectadas pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Tese de Mestrado, Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.

TAMINATO, Mônica et al. Rastreamento de Streptococcus do grupo B em gestantes: revisão sistemática e metanálise. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 19, n. 6, p. 1470-1478, Dec.  2011 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692011000600026&lng=en&nrm=iso>

VALDES R, Enrique et al. PREVALENCIA DE COLONIZACIÓN POR STREPTOCOCCUS AGALACTIAE (GRUPO B) DURANTE EL EMBARAZO PESQUISADO EN MEDIO DE CULTIVO SELECTIVO. Rev. chil. obstet. ginecol., Santiago ,  v. 69, n. 2,   2004 .   Disponível em <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-75262004000200008&lng=es&nrm=iso>

7 comentários:

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  2. Grupo D
    Eita!!! Com infecção neonatal ninguém brinca, pois esta pode evoluir como bacteremia, sepse, pneumonia e meningite. Como o próprio post trás, o tratamento é com antibióticos da classe das penicilinas e cefalosporinas.
    Ambos os antibióticos têm mecanismo de ação semelhantes, vão agir sobre uma enzima muito importante para a síntese da parede bacteriana, essa enzima é chamada de transpeptidase que tem função de fazer a ligação cruzada entre os polímeros de peptidoglicano, que consiste em filamentos lineares de 2 aminoaçúcares alternados (N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico). Essa estrutura é quem proporciona estabilidade mecânica rígida em virtude da sua estrutura entrelaçada com alto índice de ligação cruzada. Resultando em inibição do seu desenvolvimento e crescimento normal.
    Referência:
    GOODMAN, L.S., GILMAN, A. G. As bases farmacológicas da terapêutica. 12ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012.

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  3. Grupo H
    Muito interessante o post! Não tinha conhecimento desse tipo de infecção neonatal. Buscando mais sobre isso vi o quão frequente e séria pode ser essa contaminação. Tanto é que já existem cepas resistentes aos antibióticos habitualmente utilizados na quimioprofilaxia, penicilina e ampicilina e, nos casos de alergia, eritromicina ou clindamicina. A existência dessas cepas torna ainda mais delicado o cuidado com a infecção, tanto materna quanto do neonato.

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  4. Assunto muito relevante. Mais um dos casos de mortalidade infantil que pode ser evitado com alguns cuidados. O ideal seria, já que muitas gestantes são assintomáticas e a infecção é tão grave, realizar a cultura das bactérias para tratar a futura mãe antes do parto. A β-Hemolisina, enzima secretada pelo Streptococcus spp., é citotóxica para os tecidos epiteliais, destrói o epitélio do ainda frágil sistema respiratório do bebê, tornando a mortalidade na infecção muito elevada tanto pelos danos diretos quanto pelo risco de outras infecções oportunistas. É um risco que deve ser evitado!

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  5. Olá, pessoal... eu pesquisei aqui alguma coisa sobre a hialuronidase, um dos fatores de virulência dessa bactéria. O ácido hialurônico faz parte dos lubrificantes nos líquidos sinoviais, também confere o aspecto vítreo dos olhos, e está presenta na matriz extracelular de cartilagens e tendões. assim, confere proteção e resistência a essas estruturas. A hialuronidase, secretada pela bactéria Streptococcus agalactiae, é uma enzima que pode hidrolisar as ligações glicosídicas do hialuronato e torna os tecidos mais suscetíveis à invasão pelas bactérias. Tá vendo aí?! Da mesma forma, as Neuraminidases, Proteases, e DNAases agem sobre outras substancias/moléculas especificas, desestabilizando células do organismo alvo, a fim de crescerem e se multiplicarem kkk

    Ótima postagem!

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  6. GRUPO L
    Muito interessante à postagem sobre os efeitos de uma infecção por Streptococcus agalactiae para o neonato. Eu, particularmente, não tinha conhecimento sobre a existência desse tipo de infecção por bactéria muito menos dos seus efeitos sobre a mortalidade infantil. Um ponto do post que merece ser discutido e mais ampliado é a parte de como é feito o diagnóstico da presença dessa bactéria no organismo da gestante para poder submetê-la a quimioterapia com antibióticos. Para obter diagnóstico e impedir a infecção neonatal é importante que a bactéria seja identificada e tratada antes do trabalho de parto. Durante a gravidez, toda gestante deve ser submetida a um exame de urocultura à procura de bactérias na urina. Nesse exame, a urina da gestante é cultivada em meio de cultura para analisar o crescimento de micro-organismos. Se for identificado Streptococcus agalactiae, deve-se instituir tratamento antibiótico adequado para eliminação dos mesmos. Outra alternativa é fazer duas culturas coletadas de locais diferentes (da parede vaginal e anorretal) entre 35 e 37 semanas de gestação ou quando a mulher apresentar trabalho de parto ou ruptura de bolsa antes de 37 semanas. Esse exame é conhecido como “exame do cotonete” e também é importante na identificação de Streptococcus agalactiae. O teste do cotonete só é feito no final da gravidez porque a colonização da vagina pelo Streptococcus agalactiae pode desaparecer sozinha ao longo da gestação. E mesmo que ele seja tratado no início da gravidez, a bactéria pode retornar ao longo dos meses. O importante mesmo é saber se a bactéria em questão está presente na hora do parto, e não meses antes. Durante esses exames também é testada a susceptibilidade aos antibióticos (antibiograma) para que se tenha uma indicação de tratamento mais eficaz.

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  7. Olá galera! Importante também é abordar a resistência que esses microorganismos estão adquirindo.
    No Brasil, a detecção de amostras de S. agalactiae resistentes a esses antimicrobianos citados na postagem vem demonstrando tendência de aumento. Em estudos, as taxas de resistência a eritromicina (9,4%) e clindamicina (6,2%) foram superiores às de 5,4 e 1,1%, respectivamente, detectadas em amostras clínicas de S. agalactiae isoladas de pacientes infectados no período de 1994 a 1999, no Rio de Janeiro.
    A freqüência relativamente elevada de colonização por EGB verificada, assim como a detecção de amostras resistentes aos antibióticos recomendados nos casos de alergia a penicilina, devem alertar a classe médica acerca da importância de incluir, no exame pré-natal, a realização de cultura para pesquisa da colonização por EGB com a avaliação sistemática da suscetibilidade aos antimicrobianos, a fim de proceder a uma escolha racional do antimicrobiano a ser utilizado na quimioprofilaxia.
    Até a próxima!

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