O
tabagismo durante a gestação tem implicações que vão além dos prejuízos à saúde
materna. Os malefícios sobre a saúde fetal são tantos, que justificam dizermos
que o feto é um verdadeiro fumante ativo.
Efeitos
sobre o feto podem ir desde baixo peso ao nascer, partos prematuros e até
mortes perinatais. Contribui também para a síndrome da morte súbita do bebê,
além de causar importantes alterações no desenvolvimento do sistema nervoso
fetal. (LAMBERS, 1996).
O
ideal é que a gestante nunca faça uso de cigarro, porém estudos mostram que em
qualquer momento da gestação, o cessar da utilização de cigarro é benéfico para
o bebê, principalmente no início da gestação. A interrupção em qualquer momento
da gravidez, ou mesmo no pós-natal, tem significativo impacto na saúde da
família. Em torno de 27% das crianças americanas são expostas ao tabagismo
passivo em suas residências. A manutenção da abstinência no decorrer da
gestação e no pós-parto tem papel fundamental na prevenção de doenças
materno-infantis relacionadas ao tabaco.
Mas o
que é tão tóxico no cigarro?
No
cigarro há várias substâncias tóxicas para o nosso organismo. Segundo o
Ministério da Saúde, são mais de 4000 substâncias nocivas ao organismo humano.
Seu principal componente tóxico é a Nicotina.
A
nicotina causa vasoconstricção dos vasos do útero e da placenta, reduzindo o
fluxo sanguíneo e a oferta de oxigênio e nutrientes para o feto, podendo causar
a insuficiência uteroplacentária. Ela tem sido indicada como o principal
mecanismo responsável pelo retardo do crescimento fetal nas gestantes fumantes.
A exposição pré e perinatal à nicotina tem sido relacionada a alterações da
cognição, e do desenvolvimento psicomotor e sexual no jovem. Estes
efeitos parecem ser secundários à neurotoxicidade da nicotina, que interage com
os receptores nicotínicos colinérgicos em fase precoce e inadequada durante a
gestação, prejudicando a neurogênese e a sinaptogênese. (SLOTKIN, 1998).
A
síndrome da morte súbita do bebê tem mecanismos causais desconhecidos e
provavelmente multifatoriais. O fumo durante a gravidez é reconhecidamente um
elemento que eleva o risco de sua ocorrência. Uma das hipóteses para explicar
essa relação é que a exposição prolongada da medula adrenal do feto à nicotina
leva à perda de sua capacidade de responder reflexamente à hipóxia. Sendo
assim, durante a apneia transitória ou obstrução das vias aéreas do recém-nato,
não haveria liberação de catecolaminas para redistribuição do fluxo sanguíneo
para o cérebro e coração e para a manutenção da frequência cardíaca durante a
hipóxia.
Além
disso, a exposição fetal aos compostos do tabaco compromete o crescimento dos
pulmões e leva à redução das pequenas vias aéreas, implicando em alterações funcionais
respiratórias na infância, que persistem ao longo da vida. O desenvolvimento
pulmonar modificado pode estar associado ao aumento do risco futuro de doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer de pulmão e doenças
cardiovasculares. A nicotina provoca alterações súbitas e momentâneas no
aparelho cardiovascular da gestante, com elevação da frequência cardíaca e das
pressões arteriais sistólicas e diastólicas. Essas mudanças são
dose-dependentes e parecem não provocar repercussão clínica significativa
materno-fetal. (ELLIOT, 2001).
Além
da nicotina, podemos citar, principalmente, o monóxido de carbono. Gás venenoso
produzido pela combustão incompleta de matéria orgânica. Embora existam outras
fontes de exposição ao CO, como a poluição atmosférica, o fumo passivo, a
produção endógena e a exposição ocupacional, nada se compara ao tabagismo
ativo.
O CO
liga-se à hemoglobina materna e fetal no sítio onde se deveria ligar o
oxigênio, com afinidade 200 vezes maior que este. O produto dessa ligação é a carboxihemoglobina
(COHb), que tem uma meia vida de eliminação de cinco a seis horas, com variação
de concentração no sangue dos fumantes de 5% a 10%. A hemoglobina fetal tem uma
ligação com o CO mais forte que a hemoglobina materna, resultando em níveis de
COHb mais elevados na circulação fetal. As altas concentrações de COHb provocam
hipóxia tecidual, estimulando a eritropoiese e causando uma elevação do
hematócrito da gestante fumante e de seu feto. Isto implica em hiperviscosidade
sanguínea, aumento do risco de infarto cerebral no neonato, e mau desempenho da
placenta. O CO altera a curva de dissociação da oxihemoglobina, prejudicando a
oxigenação dos tecidos. A hipóxia celular crônica é um dos fatores que podem
explicar o retardo do crescimento fetal. No sistema nervoso do feto, o CO tem
ação de uma potente toxina, e pode causar lesões neurológicas temporárias e/ou
permanentes. No sistema cardiovascular, provoca elevação da frequência cardíaca
e hipertrofia miocárdica.
Os
malefícios do tabaco atingem não apenas a gestante, mas também o feto, o qual,
ainda no útero, se torna um verdadeiro fumante ativo. Dados recentes da
OMS revelam que a cada ano cerca de cinco milhões de pessoas morrem em
todo o mundo pela ação do tabaco. Esses dados alarmantes mostram a necessidade
de controle do tabagismo. Então, nada de fumar, valeu galera? De olho Bah hahaha!
Referências:
Lambers
DS, Clark KE. The maternal and fetal physiologic effects of nicotine. Semin
Perinatol 1996;20:115-26.
Youth
tobacco surveillance - United States, 1998-1999. MMWR CDC Surveill Summ
2000;49:1-94.
Slotkin
TA. Fetal nicotine or cocaine exposure: which one is worse? J Pharmacol Exp
Ther 1998;285:931-45.
Elliot
JG, Carroll NG, James AL, Robinson PJ. Airway alveolar attachment points and
exposure to cigarette smoke in utero. Am J Respir Crit Care Med 2003;167:45-9.
WHO.
The tobacco atlas. Geneva; 2002.
Excelente postagem! muito comum e preocupante o tabagismo durante a gravidez... Bom, além dos efeitos já citados do CO e da nicotina, o ácido cianídrico causa diminuição dos níveis de vitamina B12, interferindo na sua absorção. A deficiência de vitamina B12 está associada a parto prematuro, redução na eritropoiese e leucopoiese, levando à anemia, alterações do sistema nervoso e prejuízos no crescimento fetal, como já foi abordado no post. Acredita-se, ainda, que ocorra uma menor retenção de água no organismo materno, fazendo com que mãe e feto estejam mais sujeitos a desidratação.
ResponderExcluirAté a próxima :)))
Grupo L
ExcluirReferência: http://core.ac.uk/download/pdf/25932778.pdf
Com base em artigo de revisão, há um possível efeito do fumo sobre a mortalidade precoce, mas o aumento do risco parece ser muito pequeno, assim, o controle do fumo durante a gestação não é uma medida prioritária para a redução da mortalidade de menores de cinco anos no Brasil. 1 - VICTORA, Cesar G.. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil pré-escolar e materna no Brasil. Rev. bras. epidemiol., São Paulo , v. 4, n. 1, p. 3-69, Apr. 2001 . Available from . access on 14 June 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2001000100002
ResponderExcluirOs danos do fumo durante a gestação, o aleitamento materno e o fumo passivo para a criança e toda a familia são bastante discutidos na literatura. Dado o potencial danoso do consumo de nicotina, as mães/gestantes/puérperas são questionadas quanto ao habito do fumo. os auto-relatos precisam ser confrontados para que os dados obtidos ganhem credibilidade. (2 - LEOPERCIO, Waldir; GIGLIOTTI, Analice. Tabagismo e suas peculiaridades durante a gestação: uma revisão crítica. J. bras. pneumol., São Paulo , v. 30, n. 2, p. 176-185, Apr. 2004 . Available from . access on 14 June 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132004000200016).
A cotinina é geralmente determinada na urina, como amostra de escolha, por ser uma amostra biológica de fácil obtenção, baixa viscosidade e fácil manipulação quando comparada com o sangue e a saliva, sendo considerada uma amostra de coleta relativamente não invasiva e sem risco ocupacional a saúde, além das concentrações do analito nesse fluido serem maiores, em relação a outras matrizes, cerca de 80 a 90% da dose de nicotina absorvida pode ser quantificada na urina.
Não há um valor de referência estabelecido para a cotinina em matrizes amostras biológicas, porém foi demonstrado que valores de cotinina urinária acima de 100 ng/mL indicam fumantes ativos. (3 - http://toxicologiaufsj.blogspot.com.br/2011/08/resumo-do-artigo-aspectos-analiticos-da.html)
Por fim, de acordo com a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM 4.03.01.61-3), a COTININA é [S]-1-metil-5-[3-piridil]-2-pirrolidinona, tem fórmula molecular = C10H12N2O e massa molecular = 176,2178 g/mol. É um metabólito da Nicotina, que tem fórmula molecular = C10H14N2 e massa molecular = 162,2346 g/mol.
Grupo H
ResponderExcluirMuito completo o post! Fizemos uma postagem no blog sobre o cigarro, vale dar uma olhada.
Além dos riscos discutidos aqui para o feto, temos também a questão do fumo passivo para recém nascidos e crianças. Como o indivíduo inala as substâncias do cigarro igual o fumante e sendo as crianças tão suscetíveis, seu desenvolvimento fica prejudicado. O fato da mãe ser fumante também prejudica a criança no sentido desta ser privada da amamentação exclusiva, já que mães tabagistas tendem a ter mais dificuldade na produção de leite devido ao baixo nível de hidratação recorrente em fumantes.
Realmente, a postagem está muito informativa! Além dos muito bem explanados malefícios do monóxido de carbono e da nicotina, que reduzem a oxigenação do feto por diferentes mecanismos (diminuição da hemoglobina disponível para carregar oxigênio e vasoconstrição, respectivamente), o tabagismo também reduz em até 50% os níveis de ácido ascórbico (vitamina C) no líquido amniótico. Ele é imprescindível para a formação do colágeno que compõe a membrana aminiocoriônica. Somado ao fato de que o transporte de aminoácidos é prejudicado pela vasoconstrição causada pela nicotina, ocorre o mau desenvolvimento dessa membrana, que pode levar ao aborto.
ResponderExcluirFONTE: http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v30n2/v30n2a16.pdf