sexta-feira, 24 de abril de 2015

Poliomielite, não deixou saudade!

A taxa de mortalidade de menores de 5 anos no país caiu 77% entre 1990 e 2012 graças a uma combinação de estratégias: a criação de um Sistema Único de Saúde com foco na atenção primária de saúde, melhoria no atendimento materno e ao recém-nascido e esforços para prestar assistência à saúde no nível comunitário, melhoria das condições sanitárias, aumento do conhecimento das mães, promoção do aleitamento materno, expansão da imunização e criação de iniciativas de proteção social como o programa de transferência de renda Bolsa Família.
Um dos mecanismos de defesa do organismo contra agentes infecciosos é a imunização, que consiste na aquisição de proteção imunitária, de modo a conferir ao corpo uma resistência a infecções. A vacina é um exemplo de imunização ativa em que substâncias ou microrganismos infecciosos são introduzidos no organismo para estimular a reação do sistema imunitário quando em contato com tal agente causador de doenças.
A história da vacina se inicia no ano de 1796 quando o naturalista e médico britânico Edward Jenner elaborou a primeira vacina contra o vírus da varíola. Jenner percebeu nas tetas das vacas algumas lesões idênticas às dos humanos portadores da varíola e notou, ainda, que as mulheres que ordenhavam tais vacas eram acometidas pela varíola, porém desenvolviam uma versão mais leve da doença. Com isso, o médico fez alguns experimentos e chegou à conclusão de é possível preparar um individuo previamente contra o acometimento de certos microrganismos: estava descoberta a vacina. A partir daí, as pesquisas nessa área se tornaram constantes, muitas tecnologias foram aplicadas, resultando em importantes avanços para a Medicina.
Uma vacina é produzida a partir de substâncias infectantes (proteínas, toxinas), partes de vírus e bactérias, ou ainda, de bactérias ou vírus completos atenuados ou mortos. Tais partículas não são capazes de desenvolver a doença no organismo, uma vez que são enfraquecidas, no entanto, induzem o sistema imune a produzir anticorpos, que são glicoproteínas específicas de defesa. Esse processo recebe o nome de resposta imunitária primária.
Numa resposta imunitária primária, são produzidas células de memória oriundas da diferenciação de linfócitos B e T. Essas células perduram no organismo e detêm durante muitos anos ou pelo resto da vida do indivíduo, a capacidade de identificar agentes infecciosos com os quais o corpo já esteve em contato. Caso o organismo seja atacado pelo microrganismo contra o qual foi imunizado, será desencadeada a resposta imunitária secundária, que é instantânea e muito mais intensa que a primária, dessa forma os agentes infecciosos serão destruídos imediatamente, antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas da doença.
Poliomielite é uma doença viral que pode afetar os nervos e levar à paralisia parcial ou total. Apesar de também ser chamada de paralisia infantil, a doença pode afetar tanto crianças quanto adultos.

As vacinas da poliomielite são de dois tipos a saber: vacina constituída de vírus inativados e vacina de vírus vivos atenuados. A vacina produzida com vírus inativados contém três tipos de poliovírus:
  • ·         Tipo 1 (Mahoney)
  • ·         Tipo 2 (MEF-1)
  • ·         Tipo 3 (Saukett)

Estes são cultivados em células Vero (células de rim de macaco verde africano) e a seguir concentrados, purificados e inativados com formaldeído. Contém traços de neomicina, estreptomicina e polimixina B, devendo ser conservada em geladeira entre +2 e +8ºC. A aplicação é feita pela via intramuscular ou subcutânea na dose de 0,5 ml para cada indivíduo. Crianças com até 2 anos de idade devem receber a vacina na região glútea ou na região ântero-lateral superior da coxa. Acima desta idade a vacina deve ser aplicada na região deltóide. A posologia é de 2 a 3 doses com intervalo de um mês entre elas. Os reforços devem ser feitos um ano após as primeiras doses e repetidos a cada 10 anos. Está indicada para todas as crianças acima de 6 semanas de idade, adultos viajantes para áreas endêmicas e especialmente para as crianças imunodeprimidas por doenças congênitas ou adquiridas. As contra-indicações são as gerais das vacinas, e em especial aos alérgicos à neomicina, estreptomicina e polimixina B.

A vacina inativada induz a produção de anticorpos da classe IgG de maneira satisfatória, mas quase não dá origem a formação de IgA secretora, ao contrário da vacina oral. Nesse caso não há propagação do vírus vacinal na comunidade, não ocorrendo casos de pólio paralítica por reversão do vírus vacinal selvagem. Encontra-se atualmente disponível comercialmente em preparados associados à vacina tríplice bacteriana (DTP), o que possibilita sua aplicação sem ônus operacional. Esta vacina também é denominada tipo Salk em homenagem à Jonas Salk, seu desenvolvedor.

A vacina produzida com vírus vivos atenuados, também denominada Sabin, em homenagem a Albert Sabin – seu desenvolvedor -, é do tipo trivalente. É a vacina utilizada no Brasil, produzida a partir de três cepas de vírus denominadas 1, 2 e 3. É constituída de 106 unidades de vírus do tipo 1, 105 do tipo 2 e 600.000 do tipo 3, por dose. É de utilização oral e a vacinação básica consiste na aplicação de três doses, a partir dos dois meses de idade, com intervalo de dois meses entre as doses (2, 4 e 6 meses). O reforço é realizado com 15 meses de idade após a vacinação básica. Devido aos riscos descritos de interferência na vacinação oral, principalmente em países tropicais e subtropicais, alguns autores sugerem a realização de um reforço anual até os sete anos, o que pode ser feito através das campanhas nacionais de imunização. Não há contra-indicação na aplicação concomitante da vacina antipólio com a vacina tríplice bacteriana, ou com a vacina do sarampo.

A vacina não deve ser administrada a crianças com vômitos, diarréia ou processos febris de origem indeterminada. Pode ser aplicada a qualquer hora do dia, sem relação com alimentação. Em raríssimas circunstâncias a administração desta vacina tem sido associada à ocorrência de paralisia em vacinados sadios ou em seus contatos. A poliomielite aguda associada à vacina oral é doença aguda febril, que causa um déficit motor flácido de intensidade variável, geralmente assimétrico. O tempo decorrente entre a aplicação e o evento é de 4 a 40 dias para o vacinado e de 4 a 85 dias para o comunicante de vacinado.

As cepas virais mais implicadas neste fenômeno são as do tipo 2 (causa paralisia nos comunicantes) e a do tipo 3 que causa paralisia nos vacinados. O risco é de menos de um caso para um milhão de vacinados. A conduta médica nestes casos é o tratamento de suporte, continuar o esquema vacinal com a vacina inativada e notificar a autoridade sanitária. Os exames subsidiários sugeridos são a coleta de duas amostras de fezes nos primeiros 15 dias, com um intervalo de 24 horas entre as coletas. Além disso, realizar a eletroneuromiografia para avaliar-se a extensão das lesões.

Em 1994 o Brasil recebeu o Certificado Internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem cujo último caso foi registrado em 1989.




COTRAN, R.S., KUMAR, V., ROBBINS, S.L. Robbins Patologia Estrutural e Funcional. 6ª. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, pag 1312-1313.

UNICEF – Mortalidade infantil <http://www.unicef.org/brazil/pt/media_26030.htm> acessado em 24/04/2015 às 16h10min.


TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, CL. Microbiologia. 10. ed., Porto Alegre: Artmed, 2010. Pag 501-516.

8 comentários:

  1. Grupo L

    Muito interessante esse post! Vale ressaltar que nas formas não paralíticas da doença, os sintomas mais comuns são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta, dores generalizadas no corpo, vômitos, diarreia, constipação, espasmos, rigidez da nuca e meningite. Na forma paralítica, além desses sintomas, há a flacidez muscular, mais comum em músculos dos membros inferiores.Em geral, a sensibilidade é conservada. Já o diagnóstico deve ser suspeitado sempre que houver paralisia flácida de surgimento agudo, com diminuição ou abolição dos reflexos tendinosos. O exame do líquor (cultura) e a eletromiografia são recursos diagnósticos importantes. O diagnóstico de certeza será dado pela detecção do DNA viral ou do próprio vírus, ao microscópio eletrônico, a partir de fluidos corporais. Além disso, é indispensável estabelecer o diagnóstico diferencial para distinguir a poliomielite de outras doenças que também comprometem os neurônios motores.

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  2. Vale ressaltar que o Zé Gotinha teve um papel essencial nisso tudo! Ele foi um personagem criado pelo artista Darlan Rosa e foi responsável pela imunização de milhões de crianças contra a poliomielite.
    No entanto, mais pra frente a imunização não vai mais ser oral, para acabar com qualquer risco de sobrevivência do vírus, que não é morto na vacina oral, como no caso da polio. Logo, os planos são de ir substituindo, aos poucos, a gotinha Sabin, por vacina injetável que será chamada de "Salk", que será heptavalente e protegerá contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Meningite, Hepatite B, Meningocócica C e a Poliomelite.
    Mais prático não? Mais imunização em só uma vacina! Talvez possamos no futuro dizer adeus a outras doenças, além da Poliomielite, no Brasil.
    Leia mais em: http://bioquimicanaspoliticassociais.blogspot.com.br/2015_04_12_archive.html
    Adorei o post!
    Até :)

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  3. Grupo D
    A vacinação da população é muito importante mesmo!!! previne epidemias e ainda economiza, pois se for tratar a doença vai gastar muito mais. O brasil tem o Instituto Butantan, que foi fundado em 1901. Que produz atualmente 6 vacinas e 13 soros. A novidade é que agora está produzindo uma vacina contra a dengue que será estudada nos centros clínicos e de pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Uma boa novidade! E agora vamos ficar aqui na torcida para essa ser um sucesso, como também, foi a vacina da poliomielite para a saúde da população.
    Referencias
    http://www.butantan.gov.br/producao/ensaios/Paginas/default.aspx acessado em 26 de abril de 2015.
    http://www.butantan.gov.br/faq/Paginas/default.aspx acessado em 26 de abril de 2015.

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  4. Só complementando o assunto vou enfatizar um pouco sobre o mecanismo que leva o vírus da Polio a fazer danos irreversível ao sistema nervoso. O vírus da poliomielite tem notável tropismo por neurônios motores da medula espinal, dessa forma, uma vez no citoplasma do neurônio, o RNA viral interage com ribossomos e subverte a síntese proteica para produzir novas cópias de vírus. Em poucas horas o neurônio sofre necrose e libera dezenas de milhares de novos vírus que parasitarão outros neurônios. A progressão explosiva da infecção explica a rápida instalação das paralisias. Assim, a paralisia infantil deve-se a multiplicação viral, usando o maquinário das células humanas em favor do vírus.

    Mais informações em http://anatpat.unicamp.br/taneupolio.html

    Parabéns pelo post.

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  5. Grupo H
    Não dá orgulho do nosso país receber esse tipo de certificado!? Mas não podemos esquecer que a epidemia de polio ainda existe em países como o Paquistão, Afeganistão e Nigéria. Sendo assim, todos continuamos sob ameaça, principalmente os países do oeste africano. Enquanto não pudermos dizer que a polio está totalmente erradicada, a luta continua!

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  6. Olá pessoal,

    na publicação, nós vimos que existem dois tipos de vacinas contra a poliomielite, que são a de virus atenuados e a de virus inativados. Tá, mas não satisfeita, fui saber algo a mais sobre existirem essas duas variações, e achei uns tópicos interessantes pra complementar o post:

    1) EXISTEM DIFERENTES VACINAS POLIOMIELITE?

    Sim. Existem dois tipos, a vacina com vírus vivo atenuado, aplicada via oral (conhecida como Sabin) e a vacina inativada, aplicada intramuscular (conhecida como Salk). Ambas contém poliovirus 1,2 e 3 e nos esquemas recomendados são altamente imunogênicas e eficazes na prevenção da poliomielite.

    A imunização com três doses ou mais de Sabin (oral) também induz alto grau de imunidade intestinal à reinfecção por poliovírus e é a vacina de escolha para erradicação global da doença.

    Existe um risco mínimo (um caso para cada 1milhão de doses aplicadas) de causar poliomielite paralítica associada à vacina, principalmente após a 1ª e 2ª doses. Por esta razão o Programa Nacional de Imunizações substituiu as doses de dois e quatro meses pela Salk , que é inativada e não oferece risco.

    A CEDIPI só utiliza a vacina SALK, que é inativada e aplicada intramuscular, aos 2,4 e 6 meses com reforço aos 15 meses e 4-6 anos. A vacina está disponível nas formas combinadas com outras vacinas (ver link “vacinas combinadas“).

    2) QUE CUIDADOS DEVEMOS TER EM RELAÇÃO À VACINA PARA POLIOMIELITE?

    a) Pacientes com imunodeficiência, inclusive HIV, uso de drogas imunossupressoras ou radioterapia devem receber SALK e não Sabin

    b) Crianças que tenham contato com pacientes imunodeficientes por doença ou droga imunossupressora (pais, irmãos ou pessoas que morem na mesma casa) não devem receber Sabin. Devem receber Salk

    c) Adultos devem preferentemente receber Salk

    d) Gestantes não devem ser vacinadas poliomielite, exceto se estiverem em áreas de risco com imunização incompleta.

    e) Sempre que possível, as duas primeiras doses da vacina devem ser realizadas com a Salk

    f) As vacinas poliomielite são contra indicadas em pessoas que tenham apresentado alguma reação de hipersensibilidade ou anafiláticas à vacina ou a algum de seus componentes.

    Disponível em: http://www.cedipi.com.br/blog/vacina-poliomielite

    Abraços! Até mais ^^

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  7. Muito interessante! Fato curioso envolvendo a pólio é que durante a década de 1940, o modelo de Flexner foi minado pelo avanço da virologia e do surgimento do microscópio eletrônico. Aquele modelo sugeria que o poliovírus invadia o corpo pelo nariz ou pela boca e viajava diretamente para o cérebro e medula espinhal através do sistema nervoso. Esse modelo implicava a impossibilidade de se pensar numa vacina, pois reconhecia-se que qualquer tentativa desenvolvida com esse fim a partir de células nervosas poderia também trazer infecção cerebral.
    Em 1948, John Enders e sua equipe iniciaram experiências que os levaram a cultivar o vírus da poliomielite em outros tecidos que não os nervosos. No início da década de 1950, cientistas concluíram que o poliovírus apenas ocasionalmente atacava os tecidos nervosos. A poliomielite, antes classificada como doença neurológica de contágio respiratório, passou a ser classificada como doença entérica. A partir desses novos conhecimentos, a possibilidade de uma vacina tornou-se real.
    Até a próxima, galera!

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